Uma das maiores personalidades do paisagismo brasileiro.
Conheci o Dr. Hermes Moreira de Souza em 1978, ano em que comecei a trabalhar na Dierberger Agricola S/A. na Fazenda Citra em Limeira - SP. Na verdade eu só conhecia ele de vista, não tínhamos nenhum tipo de contato. Na época eu me lembro que por ter uma boa caligrafia fui incumbido de escrever as etiquetas de identificação das sementeiras da nossa seção de produção. Todas as sementes que eram coletadas ou recebidas de colaboradores era eu o responsável em escrever as etiquetas que seriam colocadas nas caixinhas das sementeiras e essa atividade me ajudou muito na memorização dos nomes populares e científicos das espécies de plantas. E foi aí que começou a minha admiração pelo Dr. Hermes pois na época ele era colunista no Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo e a empresa sempre foi assinante dessa publicação. Nas quartas-feiras quando eram publicados os artigos dele a empresa comprava um jornal a mais e encaminhava o exemplar desse suplemento para a seção de produção onde eu trabalhava. As matérias eram fantásticas com textos bastante explicativos ilustrados com fotos grandes e coloridas sobre plantas que foram introduzidas e adaptadas através do Setor de Plantas Ornamentais do Instituto Agronômico de Campinas do qual foi o responsável durante muitos anos. Após essas plantas serem estudadas e testadas em situações paisagísticas nas coleções do I.A.C. seus materiais de propagação como sementes, estacas e alporques eram distribuidos aos produtores da região. Ele pessoamente acompanhava a coleta das sementes e posteriomente as colocava em saquinhos de papel sobre os quais escrevia os dados de identificação da espécie como nome popular, científico e data da coleta e posteriormente distribuia aos produtores. A nossa empresa recebia parte dessas sementes e eu sempre fazia as etiquetas de idenficação colocando dentro dos pacotinhos e em seguida encaminhava ao setor de produção onde eram providenciadas as semeaduras. Graças a essa atividade fui aprendendo uma infinidade de nomes de plantas e tendo o privilégio de poder acompanhar o desenvolvimento de muitas delas depois de serem plantadas no campo. As espécies que não produziam sementes ou produziam pouco em condições brasileiras, ele desenvolvia matrizes de forma vegetativa e distribuia aos viveiristas interessados, dessa forma conseguimos a nossa primeira planta matriz da famosa RAINHA-DAS-ÁRVORES ( Amherstia nobilis ). Em 1987 com a saída de um antigo chefe de nossa seção de vendas fui convidado para substituí- lo e aceitei, a partir desse momento comecei a ter um contato direto com o Dr. Hermes e passamos a conversar mais frequentemente, ele trazia as sementes e passava atenciosamente as informações sobre as espécies. Ele era extremamente atento ao que acontecia nos viveiros de plantas, principalmente nos de Campinas e Limeira e sempre queria saber o que estávamos produzindo, quando havia alguma espécie diferente levava para fazer a implantação na coleção do I.A.C. e através desse intercâmbio passamos a ter uma grande amizade e sempre estávamos trocando idéias sobre plantas, tinha o hábito de escrever e trocávamos correspondências frequentemente comentando sobre o desenvolvimento das novas plantas e ainda guardo comigo muitas dessas cartas. Em uma de minhas visitas à sua residência, ele e seu filho Mauricio me levaram para conhecer o resultado de seu trabalho de muitos anos no Complexo Botânico do Monjolinho no I.A.C. Juntamente com o Christian Dierberger fazíamos visitas a outros viveiros sempre em busca de de espécies diferentes. Apesar da idade e a dificuldade para caminhar devido a um atropelamento sério que sofreu nas proximidades de sua residência, ele era incansável e foi convidado para fazer o paisagismo do Laboratório de Luz Sincroton em Campinas e nessa nova empreitada tive a oportunidade de poder auxiliá-lo com a indicação de plantas que tínhamos disponíveis as quais posteriormente o laboratório adquiria para plantio, algumas menos comerciais produzíamos a pedido dele, ele era bastante meticuloso na seleção das espécies e estávamos sempre trocando idéias sobre o que plantar e onde encontrar as mudas. Periódicamente visitávamos as obras desse novo trabalho dele para ver o desenvolvimento das plantas. Acredito que esse foi um de seus últimos trabalhos e com o término dessa obra nossos contatos passaram a ser menos frequentes pois assumi a função de vendedor da empresa no Mercado de Flores da C.E.A.S.A. Campinas e ele já estava mais envelhecido mas mesmo assim nunca deixou de se interessar pelas novidades em plantas no mercado. Ele e seu filho Mauricio sempre que podiam me visitavam no Mercado de Flores e como sempre me levavam algumas sementes, eu da minha parte ficava muito contente em lhe ceder alguma plantinha pela qual ele se interessasse. Posteriormente faleceu a sua esposa , Sra. Lourdes Waldemarin de Souza , e não muito tempo depois também faleceu seu filho Mauricio Waldemarin de Souza. Esses episódios foram muito tristes pois ele ficou praticamente impossibilitado de visitar o Mercado de Flores onde era tratado com respeito de admiração de todos. Durante o longo tempo que nós convivemos o que mais me impressionou na pessoa do Dr. Hermes Moreira de Souza foi a sua extrema humildade, quando era convidado para alguma palestra ou recebimento de alguma homenagem ninguém ficava sabendo, talvez ficasse constrangido em falar sobre o assunto. Houve um episódio interessante em que ele foi homenageado pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), cerimônia realizada em Piracicaba-SP. na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ) onde ele se formou como Engenheiro Agrônomo (turma de 1942), e a caminho do local ele teve um tempinho para passar aqui na Fazenda Citra para saber das novidades porém sem tocar no assunto do evento, só viemos a saber da homenagem em notícia publicada dias depois no Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo. Outro fato que me surpreendeu foi quando em uma de nossas conversas informais perguntei a ele onde eu poderia adquirir um dicionário de latim para que pudesse entender alguns nomes botânicos de plantas e já na próxima oprtunidade em que visitou a fazenda ele me presenteou com seu Dicionário Escolar Latino-Português que utilizou em seus estudos, guardo esse livro como uma relíquia. O Dr. Hermes Moreira de Souza era Engenheiro Agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ) de Piracicaba SP. Em 1943 ingressou na Seção de Botânica do Instituto Agronômico de Campinas de onde se transferiu posteriormente para o Setor de Floricultura da Seção de Olericultura e Floricultura. Os trabalhos desenvolvidos nesse setor resultaram na ampliação do mesmo e teve como resultado a criação da Seção de Floricultura e Plantas Ornamentais da qual foi chefe até a sua aposentadoria em 1983. Posso afirmar com toda a certeza que uma das minhas maiores realizações pessoais foi a participação como co-autor no livro "Árvores Exóticas no Brasil - Madeireiras, Ornamentais e Aromáticas " juntamente com o autor Harri Lorenzi , Hermes Moreira de Souza e Mário Antonio Virmond Torres. Foi extremamente gratificante dividir com eles um trabalho sobre uma grande quandidade de espécies arbóreas que pudemos ver crescer, florescer e se tornarem realidade no paisagismo brasileiro. O Dr. Hermes Moreira de Souza faleceu em 09/08/2011, deixou obras paisagísticas importantes como os Jardins da C.A.T.I. (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), Complexo Botânico do Monjolinho do I.A.C. e Laboratório de Luz Sincroton do Ministério da Ciência e Tecnologia, essas obras todas em Campinas. Também realizou trabalhos em outros munícipos como na Prefeitura de Nova Odessa SP. , Refinaria da Replan em Paulínia SP. e a Coleção de Palmeiras e Outras Espécies do campus da USP/ESALQ de Piracicaba SP. Juntamente com Harri Lorenzi, Engenheiro Agrônomo e proprietário do Instituto Plantarum de Nova Odessa SP. nos deixou livros de valor inestimável para o paisagismo brasileiro, fontes de consulta permanente para os profissionais do setor : Plantas Ornamentais no Brasil, Palmeiras no Brasil - Nativas e Exóticas, Árvores Exóticas no Brasil - Madeireiras, Ornamentais e Aromáticas e Palmeiras Brasileiras e Exóticas Cultivadas. Foi uma pessoa fantástica que jamais será esquecida, basta um breve passeio pelas áreas urbanas de Campinas e as palmeiras das mais diferentes espécies e árvores introduzidas de várias partes do mundo se incumbirão de mantê-lo sempre vivo entre nós.
RAINHA-DAS-ÁRVORES ( Amherstia nobilis )
" Que as árvores exóticas, nobres ou humildes, vindas de outros mundos, sejam respeitadas e protegidas e que possam conviver com as nativas, dando a sua contribuição, à semelhança de imigrantes, para o enriquecimento e melhoria do meio em que vivemos. Para as árvores não deve haver fronteiras, o clima é a única que as limita. " Hermes Moreira de Souza
Bauhinia hermesiana (Bauhinia uruguayensis)
*Nome em sua homenagem.
IPÊ-BRANCO DE FLORAÇÃO PROLONGADA
( Handroanthus avellanedae ''Alba'' )
*Presente dele aqui para a Fazenda Citra.
Texto : LUIS BACHER
Fotos : LUIS BACHER ( Exceto a 11a. ,12a. , 13a. e 14a. )
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GALERIA DE FOTOS :
Marcelo, Antônio Geremias,
Marilia W. de Souza, Francisco
de Assis Leitão Moraes, Ademar
e José.
O Dr. Hermes merece todo nosso respeito, parabéns pela excelente reportagem
ResponderExcluirCom certeza Ricardo, ele sempre será respeitado por tudo que fez pelo paisagismo brasileiro.
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